Especial pandemia: as consequências na elite da BFA – Conferência Sudeste

Com Maurício da Silva Junior

Arte: Salão Oval

De forma inevitável, as consequências da pandemia do Covid-19 estão sendo sentidas pelo futebol americano no Brasil desde março. Com a necessidade de isolamento social, passamos pela suspensão de todos os campeonatos e de grande parte das atividades das equipes.

O período de quase seis meses nesta situação possivelmente seja mais longo do que a maioria da comunidade imaginava no início da pandemia; e ainda não há perspectiva de retomada do esporte de forma sustentável.

Para entender os impactos sofridos nesses últimos meses, abordamos todas as equipes da BFA Elite para um mosaico desta atualidade tão peculiar.

Após a primeira matéria abordar a Conferência Sul, nesta segunda parte da matéria especial sobre os efeitos da pandemia do Covid-19 nas equipes da BFA Elite, conversamos com os 10 times da Conferência Sudeste.

Rodrigo Guimarães, presidente da Portuguesa FA, que chegou aos playoffs da conferência na última temporada, indica que a equipe sofreu com a perda de patrocínio que havia sido encaminhado para 2020 e com o afastamento de alguns atletas. “Jogadores do Academy, principalmente, ficam desmotivados, apesar dos treinos online, e muitos novatos acabam saindo e se afastando. Não sabemos dizer se voltarão e como isso efetivamente irá impactar para ano que vem”, complementa.

Guimarães comenta que as atividades permanecem sendo realizadas de forma online semanalmente, com treinos teóricos para o Adulto e a Academy, e destaca que uma boa experiência que vem sendo tirada da situação é a constatação de que a equipe possui um grupo sólido, com diretoria, comissão técnica e jogadores bastante alinhados, com pensamentos equiparados que estão facilitando a tomada de decisões.

Para 2021, Rodrigo espera que a equipe volte mais forte que 2019, pretendendo alcançar a final da SPFL Ouro (segunda divisão) com o Academy e o Brasil Bowl com a equipe principal, além de prosseguir com o desenvolvimento do flag feminino e da equipe de cheerleaders.

Felipe Castro, o Cebola, presidente do Flamengo Imperadores, destaca a perda de visibilidade da equipe na mídia e seus consequentes impactos sobre ações de patrocínio. “A paralisação de um esporte que já é pouco visto pela mídia, mesmo que por pouco tempo, é extremamente ruim. Não tem como mensurar os efeitos que teremos a longo prazo, mas no curto espaço que estamos em quarentena devido a pandemia já tivemos inúmeras desistências de conversas de patrocínio”, comenta.

O time também manteve reuniões online para desenvolvimento técnico (drills) e teórico (playbook), e alguns atletas retornaram a treinos de campo dentro das diretrizes indicadas no protocolo da CBFA.

Por fim, Cebola indica que a equipe está buscando extrair bons aprendizados da situação e vislumbra boas perspectivas para 2021: “Temos que ter sempre que ver o lado bom de tudo ou você nunca crescerá como pessoa, atleta ou time. Então estamos sim, aprendendo e muito. […] Aqui no Imperadores sempre estamos buscando o máximo em conquistas, então continuamos firme e trabalhando forte para nos colocar de volta no nosso lugar, o de campeões de tudo o que disputarmos”, finaliza.

Marcos Vinicius da Silva, presidente do Tritões, outra equipe que chegou aos playoffs da conferência em 2019, destaca a perda de apoiadores (como academias) que também foram impactados pelo período de paralisação, além da perda de visibilidade da entidade na mídia enquanto não houver atividades em campo.

Questionado sobre as atividades que a equipe está desenvolvendo, Marcos indica que os treinos remotos também não foram mantidos. “Nesse momento, apenas orientações em geral e cuidado com o corpo e mente, pois ainda estamos muito longe de uma possível competição. A nível administrativo estamos trabalhando muito e temos uma programação recheada para o próximo ano”, explica.

Marcos também destaca que o período de paralisação está sendo aproveitado para reestruturação interna da equipe, que não seria possível caso as demais atividades estivessem sendo realizadas normalmente. “Preparamos a casa e 2021 será muito produtivo. Tritões nunca entra pra cumprir tabela, entra pra ser campeão seja qual for a competição. Em 2021 estaremos mais focados do que nunca”, finaliza.

Guto Michel, Diretor de Esportes do América Locomotiva, aponta que a pandemia atingiu a equipe em momento de renovação do plantel e da comissão técnica, e logo nas primeiras semanas concluíram que não haveria condições financeiras e de saúde para manter as atividades na temporada. Para ele, os impactos causados pela paralisação serão mensurados com precisão somente após o retorno delas. No entanto, destacou que conseguiram manter o principal apoiador da equipe, apesar da perda de outros.

Neste período, foi criado um conselho com atletas, ex-atletas, diretores, coachs e líderes para facilitar a comunicação entre todos os núcleos da Associação. Ainda ocorreu maior investimento na nossa equipe Junior, com estruturação de comissão técnica e manutenção de atividades remotas.

Guto destaca que recentemente foi firmada parceria com a empresa Impetus, especializada em preparação de atletas de alta performance, para início do planejamento da próxima temporada. “Estamos com planejamento de preparação física individual com o objetivo alta performance nas competições do ano que vem. Definitivamente teremos um ano de readaptação e reestruturação”, complementa.

Para Guto, o ano de 2021 ainda é uma incógnita, mas a equipe está preparada para os desafios. “Não sabemos se o cenário de pandemia será muito diferente do que convivemos hoje. Há de se lembrar que o prazo inicial estipulado para que voltássemos ao convívio normal eram de três meses. Já passamos de seis. Estamos focando nossos esforços e acreditando que será seguro voltarmos aos treinos e competições no próximo ano […] Em todos nossos núcleos, seja equipe de flag, equipe de desenvolvimento e equipe fullpads estaremos preparados e prontos para sermos competitivos.”, finaliza.

José Liso, novo CEO do Rio Preto Weilers, campeão da conferência na BFA Acesso 2019, aguardará o retorno das atividades para identificar se ocorrerão perdas no plantel, mas os atletas vindos de outras cidades tiveram os contatos suspensos por tempo indeterminado até que haja nova perspectiva de retorno.

Comenta que houve tentativa de manter atividades remotas (físicas e teóricas) por alguns meses, sem sucesso com a queda gradativa de quórum. Deste modo, a equipe está prosseguindo somente com a capacitação da comissão técnica e aguarda a liberação dos órgãos oficiais para retomar as atividades presenciais com os atletas.

José indica que a equipe também está utilizando o período para melhorar questões de planejamento e capacitação, uma vez que há possibilidade de aproveitar o tempo para investir nestes pontos, o que não conseguiriam com o cronograma normal.

Apesar de grande expectativa sobre a equipe para 2020 diante de seu desempenho em 2019 e dos reforços anunciados para 2020, José foi cauteloso com relação às pretensões esportivas para 2021: “Pretendemos retomar as competições da SPFL e BFA Elite conforme protocolo de retorno, com cuidado extra para a prevenção de lesões dos jogadores devido ao tempo sem a prática do esporte”.

Carina Granato, presidente do Storm, preferiu focar nos pontos “positivos” da situação, indicando que a entidade está conseguindo “organizar a casa” e oferecer conteúdos técnicos e motivacionais para manter a mobilização dos atletas.

Neste período, a equipe passou por grande reformulação, desfazendo a parceria com o núcleo Diadema e com o Sete Jardas, alteração significativa da diretoria e captação de novos parceiros e patrocinadores. Os próximos projetos envolvem a conquista de campo para treinamento, captação de outros apoiadores e patrocinadores, bem como a formação de atletas no time de desenvolvimento.

Com relação aos resultados em campo, se demonstra confiante: “Com o trabalho feito entre todos nós, acreditamos que tanto nosso time feminino quanto nosso time masculino se tornaram mais fortes e unidos. Quem sabe conseguimos chegar aos playoffs no masculino e ver nosso time feminino campeão?  Seria muita pretensão? Talvez. Mas eu acredito no meu time que está em evolução constante”, finaliza.

Cris Kaji, coordenadora do Corinthians Steamrollers, comenta que a equipe está se organizando para minimizar ao máximo os impactos gerados pela quarentena, com a suspensão dos contratos de patrocínio para que retomem assim que as atividades retornem. Também indicou que estão buscando novos meios e fontes de renda através de Lei de Incentivo e Editais.

Neste período sem atividades em grupo, os atletas mantiveram treinos individuais em casa e, mais recentemente, em academia. Também estão ocorrendo reuniões online com as unidades específicas e encontros gerais com o head coach.

Cris indica que o período também foi utilizado para retomar projetos antigos e dar andamento em projetos via Lei de Incentivo Federal e Estadual, acreditando que iniciarão a temporada de 2021 com pelo menos um projeto aprovado para início da fase de captação.

Questionada sobre “boas experiências” extraídas da situação, comenta: “Se há uma boa lição para 2020 é realmente aproveitar cada momento, seja com sua família, seja com seu time. Muitas vezes deixamos para depois muitas coisas importantes, achando que sempre estarão lá. Dar mais valor às pequenas coisas, a todas as pessoas. Não só o mundo esportivo, mas acredito que para o mundo no geral fique essa lição”.

Com relação aos projetos esportivos para 2021, Cris projeta como metas a conquista da SPFL Diamante com o time principal e a montagem de equipe competitiva na série de acesso, bem como a continuidade das categorias de base, o início de projetos como o “Kids Club” e “Teens Club”, e a maior fomentação dos projetos sociais.

Francisco Araújo, o “Chico”, head coach do Challengers, reconhece os impactos da paralisação sobre os jogadores, devido ao período sem possibilidade de realização de atividades físicas e até a perda de emprego por alguns deles. No entanto, indica benefícios a médio e longo prazo com a possibilidade de recuperação de lesões.

Administrativamente, o General Manager Thaynan Oliveira aponta que a entidade não sofreu com perda de investimentos ou patrocínios. Indica que houve redução das receitas pela metade devido à interrupção das atividades, mas que os trabalhos em home office possibilitaram a contenção de despesas. Para 2021, possui boas expectativas com patrocínios e investimentos pela recuperação econômica das empresas.

Thaynan indica que a comissão técnica orientou os atletas a permanecerem ativos dentro de suas possibilidades, e foram realizadas reuniões online para estudo de playbook. Organizacionalmente, a diretoria focou em agilizar processos e cumprir metas administrativas. “[…] Fora da parte desportiva, o lado bom dessa situação é que conseguimos focar bastante em ações sociais e processos administrativos do time”, complementa.

Como ocorreu em 2019, a equipe não participará de campeonatos no primeiro semestre e o head coach Chico possui boas expectativas para a disputa da BFA: “Pretendemos continuar a progressão do nosso planejamento, preparando o grupo no primeiro semestre para entrar na BFA preparado para disputar vaga nos playoffs”.

Diego Aguiar, diretor de Marketing do Vasco Almirantes, vice campeão da conferência em 2019, indica certo otimismo com relação à parte financeira. “Felizmente não tivemos nenhum patrocínio perdido, pelo contrário, conseguimos um novo, mas sabemos que não foi o usual”. No entanto, algumas baixas no elenco por aposentadoria já teriam sido registradas, e o time segue com treinamentos online para manter a motivação do restante do plantel.

Destacou que a equipe está aproveitando a situação para organizar as finanças e preparar de melhor forma a temporada 2021, quando a pretensão esportiva será a busca dos títulos estadual e nacional.

Eddie Aragão, vice presidente Galo FA, campeão da conferência em 2019, aponta que após o anúncio da suspenção das competições, a diretoria montou um planejamento para tentar cumprir os compromissos firmados com patrocinadores, comissão técnica e jogadores. Indica que as ações de marketing, como lançamento do novo uniforme de jogo no Mineirão, camisa feminina, aquisição de ônibus para a equipe, lançamento de podcast, site e aplicativo, resultaram em sucesso na manutenção dos patrocinadores.

Na parte esportiva, Eddie comenta que foram mantidos os contratos do Head Coach Joaquim Soares e do General Manager Raphael Menezes, e reuniões remotas foram realizadas com os atletas para mantê-los em atividade, destacando o acompanhamento de fisiologia e fisioterapia nestes trabalhos.

Recentemente, foi criado protocolo para retorno aos treinos, com realização de testes de Covid-19 nos atletas e na comissão técnica, permitindo o retorno das atividades de campo no último dia 20. Por fim, Eddie aponta que o time ainda realizará partida amistosa em 2020 e, para a temporada 2021, espera manter a filosofia da equipe, continuar a fomentação do esporte e o desenvolvimento de atletas para conquista de novos títulos.

> Veja como classificação final da Conferência Sudeste da BFA Elite em 2019
> Protocolo de retorno às atividades – CBFA

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