De forma inevitável, as consequências da pandemia do Covid-19 estão sendo sentidas pelo futebol americano no Brasil desde março. Com a necessidade de isolamento social, passamos pela suspensão de todos os campeonatos e de grande parte das atividades das equipes.
O período de quase seis meses nesta situação possivelmente seja mais longo do que a maioria da comunidade imaginava no início da pandemia; e ainda não há perspectiva de retomada do esporte de forma sustentável.
Para entender os impactos sofridos nesses últimos meses, abordamos todas as equipes da BFA Elite para um mosaico desta atualidade tão peculiar.
Após abordarmos a Conferência Sul, Sudeste e Nordeste, nesta última parte da matéria especial sobre os efeitos da pandemia do Covid-19 nas equipes da BFA Elite, conversamos com os oito times da Conferência Centro-Oeste.
Fabrício Ataíde, head coach do Tubarões do Cerrado, atual campeão da conferência, indica que ainda não é possível avaliar os impactos da paralisação das atividades, mas adianta que muitos jogadores e grande parte dos parceiros não devem conseguir retornar à equipe, mas aguarda o restabelecimento dos trabalhos normais para avaliar com maior certeza.
Neste período, o time desenvolveu o programa “TDC EAD”, que contou com aulas online para os jogadores, com acompanhamento por provas e cronograma de drills para manter a memória muscular. Também foi realizado programa de capacitação de técnicos, chamado de “Master Class TDC”, com palestras por americanos e participação de treinadores brasileiros.
Ataíde indica que a equipe tirou lições da atual situação, apontando que foi um “desafio especial” tentar conduzir virtualmente as atividades. Por fim, acredita que 2021 será um ano de reconstrução para o Tubarões, mas almeja manter a hegemonia na conferência e construir uma equipe “do calibre de Brasil Bowl”.
Denevaldo Junior, o Deneva, presidente do Cuiabá Arsenal, também aguarda o retorno das atividades para mensurar os impactos gerados pela pandemia, mas não acredita em desmobilização do plantel e destaca que as negociações com o futuro head coach permanecem ativas.
Deneva indica que a equipe realizou reuniões remotas com atletas e parceiros, e manteve atuação na mídia digital, com ações de responsabilidade social, como campanhas para doação de sangue e apoio a diversas causas. Além disto, destaca a conquista de bolsas de estudos para alguns atletas junto a parceiros.
Administrativamente, Deneva aponta que a diretoria está reformulando o projeto da Lei de Incentivo ao Esporte, bem como os Termos de Compromisso de Atleta, Código de Ética e Relatório de Atividades. Em breve, também haverá o lançamento do novo site da equipe.
Deneva indica que boas experiências serão extraídas deste cenário pelas equipes que aproveitaram o período para reorganizar as instituições, elaborar projetos, melhorar o conhecimento e aplicar boas práticas de gestão. “Aqueles que não, ou os que apenas acharam que foi uma tragédia para todos os setores da equipe, sem pensar e buscar soluções para seus problemas, provavelmente terão mais dificuldades, talvez alguns poderão até encerrar atividades, torço para que não!”, complementa.
Para 2021, Deneva revela que a equipe pretende participar do campeonato mato-grossense e da Liga BFA, remontar a equipe feminina de flag e criar times de base. Também espera aumentar as ações de intercâmbio e capacitação para atletas, bem como participar de algum evento fora do país ou receber alguma equipe em Cuiabá. Por fim, destaca o grande objetivo do Arsenal: “[…] pretendemos ter o tão desejado local como sede para preparação da equipe”.
Everton Oliveira, diretor financeiro do Sorriso Hornets, reconhece prejuízos monetários com a perda de patrocínios neste ano, mas destaca que a pandemia não atingiu tão fortemente a região e os atletas permanecem saudáveis.
Ainda com relação aos jogadores, Everton aponta que estão mantendo o foco em seus treinamentos individuais, enquanto a diretoria está aproveitando o período para reorganizar sua “metodologia” para retorno às atividades e novos métodos de captação de recursos.
Questionado sobre boas “experiências” da situação, Everton aponta otimismo: “[…] tanto as pessoas quanto nossos atletas deram mais valor à vida, ao esporte, treinos coletivos […] Então 2020 foi o ano de valorização das pequenas coisas que tínhamos e não sabíamos que eram tão importantes […] Acredito que vão voltar aos treinos com muita força de vontade”.
Para a próxima temporada, Everton acredita que o período de paralisação permitirá a plena recuperação de lesões pelos atletas. “Com isso, 2021 para o cenário do futebol americano vai ser um dos melhores anos”, complementa. Com relação às expectativas da equipe, aponta que inicialmente levantarão as perdas para se reorganizar e “não deixar o esporte e o Sorriso Hornets morrer!”, finaliza
Adalberto “Dadau”, presidente do Leões de Judá, reconhece perdas financeiras significativas para a equipe, destacando todo o investimento com salários e transporte dos estrangeiros, comissão técnica e jogadores brasileiros efetivamente contratados, com os quais os compromissos foram honrados até Julho. Com a rescisão dos contratos, a “casa atleta” foi fechada e houve contenção de gastos.
No entanto, destaca que não houve perda de patrocinadores e indica que novos foram obtidos para a próxima temporada diante da fusão com a Sociedade Esportiva Gama, que permitiu possibilidade maior de investimentos pelos patrocinadores já existentes neste clube.
Dadau indica que a comissão técnica também tentou realizar encontros remotos com os atletas, mas sem sucesso devido à baixa participação. No entanto, com a flexibilização das atividades em Brasília, estão sendo realizados treinos semanais com os jogadores fora de faixas de risco, mantendo “jogos” no sistema 7 x 7.
Também aponta que a equipe será anfitriã do Combine da Echelon Sports neste mês de novembro, e após o mesmo será realizado um torneio aberto para outras equipes interessadas, destacando que tais eventos deverão obedecer a política pública de precaução e saúde.
Apesar do cenário envolvido, Dadau aponta que a equipe não perdeu nenhum jogador e indica grande procura de novos interessados em participar do projeto. Por fim, para 2021 planeja a recontratação de todos os jogadores dispensados em Julho, realização de mais um traning camp e início do projeto do centro de treinamento em parceria com o Gama.
Eduardo Narvaes, vice presidente e head coach do Rondonópolis Hawks, aponta impactos extremamente negativos gerados pela pandemia e acredita que a equipe deve voltar ao patamar observado em 2016 devido a desmobilização em todos os âmbitos, como patrocínios e atletas mais experientes.
Para 2021, a equipe planeja sua reestruturação organizacional e o desenvolvimento de novos atletas para compensar as perdas observadas neste ano. Por fim, como objetivo esportivo, pretende manter a participação na BFA Elite.
Ricardo Bonadimann, presidente do Sinop Coyotes, indica que a realização dos treinos de forma normal não retornará em 2020 devido à proximidade com o final do ano, lamentando especialmente a impossibilidade de desenvolvimento dos novos atletas aprovados na seletiva realizada no início do ano e que estavam em treinamento há apenas um mês no momento da paralisação das atividades.
Bonadimann aponta que a equipe manteve os treinos teóricos online e, através do preparador físico Felipe Karsten, montou um programa para condicionamento físico, contando com grupos de até cinco atletas para retorno gradual e contínuo das atividades em academia.
Para a próxima temporada, Bonadimann aponta que a equipe aguardará o retorno do head coach Diego Oliveira (que retornou temporariamente a sua cidade natal) e das atividades normais para analisar o plantel, montar o planejamento de treinamentos e a retomada de competições.
Raphael Gonçalves, diretor geral do Brasília V8, campeão da conferência na BFA Acesso, também aguarda o retorno das atividades presenciais para apurar os impactos físicos e técnicos. No entanto, reconhece que haverá prejuízo devido à perda de ritmo de treinos e jogos que a equipe vinha mantendo, destacando a grande melhoria técnica na última temporada.
Com relação a patrocínios, Raphael aponta o encerramento de alguns com “ideias divergentes”, mas a conquista de novas parcerias. “O novo cenário esportivo e o entretenimento podem ajudar o desenvolvimento do V8”, complementa.
Neste período, a equipe também manteve treinamentos teóricos, e os atletas estariam mantendo sua preparação física de forma individual. Administrativamente, Raphael aponta reestruturação da diretoria e organização de projetos para reposicionamento da entidade.
Raphael indica que o momento é de aprendizado, com “novas portas se abrindo”, mas novas exigências também. “Hoje temos novas formas de ver o esporte, novas maneiras de lidar com o mundo e, no nosso caso, vimos que aprendemos muitas maneiras de interagir e contribuir com nossos torcedores, assim como com a sociedade”, acrescenta.
Com relação a pretensões esportivas para próxima temporada, Raphael aguarda definição de algumas “variáveis” para realizar um prognóstico, mas afirma que a equipe estará presente nas principais competições, esperando elevar cada vez mais o esporte, sempre propagando o fair-play.
Guilherme “Roceiro”, presidente do Universo Rednecks, que retorna à BFA Elite após dois anos de punição, indica a perda de apoiadores e patrocinadores com os quais a equipe possuía verbas destinadas a produção de uniformes e desenvolvimento de marketing. Também destacou a perda de um espaço para treinamento que havia sido obtido em parceria com a prefeitura.
Com relação aos atletas, Guilherme aponta que o plantel contaria com dois americanos para a disputa da temporada e mantinha parceria com um preparador e um espaço de Crossfit para desenvolvimento físico, lamentando estas perdas com a paralisação das atividades. O time também contaria com diversos jogadores que retornariam após disputarem as duas últimas temporadas por outras equipes.
O Rednecks também manteve reuniões online, com análise de partidas, estudo de jogo, aplicação do playbook, e trabalho de filosofia comportamental e liderança do Head Coach. No entanto, devido ao longo período decorrido, houve certa desmobilização dos atletas.
Administrativamente, a equipe realizou reformulação completa da diretoria, a qual Guilherme aponta como “boa experiência” extraída da situação, mas ainda aguarda o retorno das atividades para que os novos projetos sejam colocados em prática.
> Veja como classificação final da Conferência Sudeste da BFA Elite em 2019
> Protocolo de retorno às atividades – CBFA