Dificuldades, sonhos e realizações: um olhar sobre as mulheres do FABR

Elas fazem acontecer - no Dia Internacional das Mulheres, o Salão Oval conversou com figuras-chave do FABR feminino sobre suas dificuldades, sonhos e realizações Foto: jogadoras do Brasília Pilots, por Gustavo Moreno, para a GPS Brasília

Celebrado no dia 8 de março desde 1909, o Dia Internacional da Mulher representa a luta das mulheres pelo direito ao voto, por reconhecimento, igualdade e contra o machismo inerente da sociedade. Temos mulheres inseridas no Futebol Americano no Brasil desde os primórdios e buscamos saber das nossas atletas, dirigentes e árbitras como tem sido sua dentro do FABR.

> Saiba mais sobre as competições nacionais femininas e suas equipes campeãs

CRIS KAJI (Presidente CBFA)

Maior dificuldade: Não tive dificuldades em me inserir no esporte, pelo contrário fui muito bem acolhida desde o começo.

Maior realização até o momento: aprovação do projeto social Touchdown do Futuro Federação Paulista pela Secretaria Especial dos Esportes. Através da lei de incentivo federal, cerca de 400 crianças em vulnerabilidade social poderão ser atendidas em São Paulo de forma gratuita para aprender o futebol americano.

Sonho: ver o futebol americano crescendo, sendo praticado nas escolas e crianças cada vez mais novas em todo o Brasil

“Quero executar de maneira concreta o incentivo às categorias de base em todo o País, junto às Federações. Um trabalho contínuo para captar talentos, desde aos 13 aos 16 no flag, e dos 16 para cima já no futebol americano”, afirma Cris Kaji, nova presidente da CBFA.
Foto: Divulgação CBFA

TATIANA SABINO (Presidente America Big Riders)

Maior dificuldade: A maior dificuldade para me inserir no esporte é que quando comecei a praticá-lo não existiam mulheres praticando, por consequência, não existiam equipes femininas. Portanto, iniciar tudo, aos 15 anos de idade, através do Big Riders como pioneiro no FA Feminino, foi a minha maior dificuldade.

Maior realização até o momento: A maior realização até o momento continua sendo o Big Riders, uma das equipes mais antigas, tradicionais, consistentes e respeitadas no FABR, que tenho a honra de ser presidente, atleta e coach 🥰

Sonho: O meu sonho para o FABR é menos ego e mais trabalho, menos fake e mais verdade, menos machismo e mais sororidade.

“A maior realização até o momento continua sendo o Big Riders, uma das equipes mais antigas, tradicionais, consistentes e respeitadas no FABR, que tenho a honra de ser presidente, atleta e coach”, afirmou Tatiana Sabino. Foto: Divulgação

RAQUEL DE SOUZA (Presidente Brasília Pilots)

Maior dificuldade: A maior dificuldade como atleta e dirigente é conciliar a vida profissional com o futebol americano. Infelizmente, minha fonte de renda não vem do esporte e se dedicar 100% aos dois exige muita disciplina e sacrifícios.

Maior realização até o momento: A maior realização que eu tive no futebol americano foi ser chamada pra dois training camps de seleção, tanto do flag quanto do futebol americano. Foram momentos de muita alegria, muito conhecimento e muita gratidão.

Sonho: Meu sonho pro FABR é ver cada vez mais mulheres inseridas nele, como atletas, árbitras, dirigentes, repórteres, técnicas. Inseridas em todos os ambientes possíveis.

“A maior dificuldade como atleta e dirigente é conciliar a vida profissional com o futebol americano. Infelizmente, minha fonte de renda não vem do esporte e se dedicar 100% aos dois exige muita disciplina e sacrifícios”, explicou Raquel. Foto: Igor Alessandro

KAMILA PELLEGRINI (Jogadora, Coach Ofensiva de flag masculino )

Maior dificuldade: O medo. Quando você entra em um esporte majoritariamente masculino a gente cria um medo do fracasso, de não corresponder as expectativas, e claro, de falhar. Porém, é o mesmo medo que te dá combustível para tentar ser a sua melhor versão.

Maior realização até o momento: Ter experiência em comissão técnica tanto de futebol americano quanto em flag football e no primeiro semestre de um novo time, conseguir podium em um bowl.

Sonho: Que se torne mais profissional. Que possua muitas ligas, tenha muitas competições e aprendizado.

Foto: Tatiana Gava

GABRIELE EVANGELISTA (Jogadora do San Diego Tridents)

Maior dificuldade: no início, foi a minha locomoção, porque quando comecei não tinha carro então eu era depender das minhas colegas de time pra conseguir ir treinar e dependente de esporte público. Andar com aquele equipamento todo a pé e de ônibus não era simples. E a falta de patrocinador. É um esporte onde os equipamentos são caros e as viagens a gente que arca. Então, hoje vejo essa questão como dificuldade para muitos.

Maior realização até o momento: com certeza a minha maior realização até agora, depois de ter sido convocada pro TC da Seleção Brasileira, que é o sonho e o objetivo de todo atleta dentro do esporte, foi ter sido contratada pra jogar na primeira liga profissional feminina pelo meu time e poder fazer do esporte minha carreira e minha profissão, poder viver dele, que sempre foi meu sonho.

Sonho: Sonho para o FABR é que o FABR em geral e, principalmente o FABR feminino, cresça e se fortaleça cada vez mais. Temos muitos talentos dentro do nosso esporte no qual se as jogadoras se dedicarem e levarem realmente a sério, o nível do esporte vai crescer, evoluir e se fortificar cada vez mais no Brasil. Aumentando o nível dos campeonatos, teremos maior visibilidade para o esporte e para as mulheres no esporte, além de agora terem a chance de fazer de um hobby aqui no Brasil e carreira profissional lá fora. Que o apoio e incentivo pela CBFA possa ser maior que já era, já que agora temos uma presidente mulher e que entende mais o nosso lado e a nossa causa. Meu sonho é que o esporte aqui se fortaleça cada vez mais para que as gerações futuras tenham mais facilidade, acesso, tenham mais apoio, suporte, igualdade e incentivos para jogar, evoluir e tentar carreira lá fora.

Exemplo de determinação, brasileira Gabriella Evangelista jogará nos EUA
Foto: Igor Alessandro

AMANDA RAMOS (Jogadora e Fundadora do Curitiba Silverhawks)

Maior dificuldade: Quando comecei no esporte a maior dificuldade de fato foi achar um espaço em que uma mulher pudesse se inserir. Tínhamos poucos times femininos, poucas mulheres árbitras e pouquíssimas técnicas em 2012.
Perceber que seria possível e conquistar um espaço, foi a maior dificuldade.

Maior realização: Como diretora: Título nacional em 2019 com o Silverhawks. Foi uma meta traçada em 2015 e que foi conquistada no prazo definido, através do processo correto de derrotas, vitórias e muito aprendizado. Como atleta: Convocação para a seleção brasileira. Foi superinesperado, tendo em vista que eu estava na posição de center não fazia nem uma temporada completa e foi muito realizador. Como árbitra: Apitar como árbitra principal a decisão de terceiro lugar do campeonato paranaense, foi bem especial!

Sonho: Eu queria muito que os gestores e técnicos levassem um pouco mais a sério os seus papéis. Que buscassem entregar mais do que o esperado, que fossem além. Que buscassem a capacitação e fossem inspiração e exemplo para seus atletas. Assim, o FABR chegaria um pouco mais perto da profissionalização.

Amanda Ramos tem realizações como jogadora, dirigente e árbitra. Foto: Ariane Amaral

ESTER ALENCAR (Jogadora e Fundadora do Curitiba Silverhawks)

Maior dificuldade: Creio que minha maior dificuldade no começo foi o fato de que ou abraçava o papel de iniciar algo ou não teria como fazer parte do esporte, não como atleta. Vejo que muitas mulheres hoje estão nessa situação, a maioria das cidades não tem projetos de FA feminino. Então, é um desafio grande, nem sempre tem alguém disposto a abrir esse caminho.

Maior realização: Acredito que a principal conquista foi ter visto o Curitiba Silverhawks em campo pela primeira vez como um time competitivo, em 2017, como um time estruturado e com futuro. O título da Liga BFA em 2019 veio pra coroar tudo isso, e foi muito especial individualmente e coletivamente.

Sonho: Meu sonho para o FABR é que as equipes tenham condições de manter seus times sem depender do investimento financeiro dos atletas. Que os atletas possam se dedicar e não se preocupar se terão condições pra ir ao treino e que as comissões técnicas tenham recursos para fazer um bom trabalho.

Foto: Caçadores de Jardas
“Meu sonho para o FABR é que as equipes tenham condições de manter seus times sem depender do investimento financeiro dos atletas”, afirmou a craque Ester. Foto: Caçadores de Jardas

ANNA BEATRIZ (Diretora João Pessoa Espectros)

Maior dificuldade: Graças a Deus nunca tive nenhum problema no Espectros quanto a isso (inserção na modalidade). Entrei no time em 2013, quando Diego (Aranha, kicker da equipe e da Seleção Brasileira) começou a jogar, e desde o início ajudei na organização de jogos e viagens. O time sempre teve uma base familiar muito forte, com mulheres envolvidas (em sua maioria, as mães dos atletas) em tudo.

Maior realização: Sem dúvida, ver a felicidade dos meninos ao serem sagrados campeões e bicampeões brasileiros de futebol americano. Ver atletas amadores, que treinavam após os estudos e o trabalho, com pouco ou nenhum incentivo, chegando ao topo do esporte nacional é, sem dúvida, um grande motivo de orgulho. Outra realização que destaco foi a formação do Esquadrão Fantasma, nossa equipe de cheerleaders. Eu e Bela sempre tivemos o sonho de implantar uma equipe, mas as dificuldades eram muitas. Vê-las hoje brilhando e sendo referência no Brasil e no Nordeste é uma grande realização.

Sonho: Além do tricampeonato brasileiro e eneacampeonato nordestino do Espectros (🤓), que houvesse mais investimento e apoio, público e/ou privado, o que possibilitaria maiores oportunidades para os nossos atletas. Disso resultariam mais conquistas e reconhecimento. O que os times amadores espalhados por esse Brasil alcançam com o pouco que têm é admirável. Muitas vezes sustentados com mensalidades pagas pelos próprios atletas, como no caso do Espectros, que também conta com seus fiéis patrocinadores, como a Redzone Academia e a G&E Serviços. Outro sonho seria ver mais mulheres atuando em campo e nos bastidores.

Foto Anderson Silva
“O time sempre teve uma base familiar muito forte, com mulheres envolvidas (em sua maioria, as mães dos atletas) em tudo”. Foto: Anderson Silva

BELA ROSAS (Diretora João Pessoa Espectros)

Maior dificuldade: Entrei no Espectros no mesmo mês da sua fundação e sempre houve um respeito muito grande pelas mulheres que fazem parte do time. Bem no início, eram as namoradas, esposas e mães que ajudavam na organização do time. Esse respeito e espaço pelas mulheres que fazem parte do time, seja diretoria ou torcida, sempre existiu e perdura até hoje.

Maior realização: Além do bicampeonato e todos os obstáculos que superamos para chegar até lá, a grande conquista do Espectros é o legado que construímos na escala local e nacional. Ter o reconhecimento e apoio de todos os nosso torcedores, a melhor torcida do Brasil, é a maior das nossas conquistas. Ver as arquibancadas lotadas e ter por quem jogar, não tem preço. Além do conhecimento local, com muito esforço, conseguimos levar o nome do Espectros para todo o Brasil.

Sonho: O trabalho que fazemos dentro e fora de campo, além da busca por títulos, é também a luta por um maior reconhecimento e crescimento para o futebol americano no Brasil. Sonho com times recebendo um maior investimento, possibilitando melhor qualidade para os treinos, viagens, promovendo uma estrutura melhor para os jogos do campeonato. Que os times possam, cada vez mais, encarar um jogo como um evento e uma oportunidade de promover e estreitar laços com sua torcida, levar seus torcedores para os jogos, fazer essas pessoas se apaixonarem pelo esporte. São premissas básicas, mas que levarão, aos poucos, o futebol americano aqui no Brasil a outro patamar.

Confira o Hangout com as diretoras do Espectros

 

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