As hashtags #BlackLivesMatter ou #VidasPretasImportam foram trending topics no mundo e no Brasil também. No entanto, a conscientização de que a sociedade deve realmente colocar em prática ações para que todos possam realmente viver em ambientes em que não hajam perseguições, desigualdades e opressões pode esvair-se com a mesma velocidade que as postagens nas mídias sociais.
Para não deixar que isso aconteça, um coletivo de membros do FABR uniu-se para poder dar corpo a esta conscientização, apoiar futuras vítimas de atos racistas no ambiente do futebol americano e denunciar com mais veemência tais atos.
> Leia o Manifesto do movimento Coalizão Negra do FABR
Somando forças com o futebol
A inspiração para o movimento veio do futebol, onde, desde 2014, existe o Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Criado pelo gaúcho, formado em administração de empresas, Marcelo Carvalho, o Observatório tem como objetivo de monitorar e divulgar, por meio de seus canais, os casos de racismo no futebol, assim como ações informativas e educativas que visem erradicar a intolerância que tanto macula a democracia das relações sociais.
“Na minha infância toda, cresci ouvindo que o futebol era um espaço democrático, a representação de uma suposta democracia racial nacional. Mas conforme fui crescendo, fui me afastando da possibilidade de me tornar jogador, mas nutria a esperança de um dia trabalhar com o futebol ou o esporte. E nisso, fui descobrindo o quanto este esporte é extremamente racista e elitista”, explicou Carvalho.
“Quando houve os casos de racismo com o Márcio Chagas e Arouca, vi a possibilidade de falar do racismo trazendo números, pois não existe um monitoramento de casos de racismo no futebol brasileiro. Com isso, criei um perfil no Twitter, que foi crescendo e se transformou no que é o Observatório hoje – que tem por objetivo mostrar para a sociedade brasileira que os casos de racismo não são esporádicos, são quase um por rodada. Além disso, o futebol tem que ser um espaço para promover a luta contra o racismo e outras causas sociais”, adicionou o idealizador do movimento no futebol.
O contato com Marcelo Carvalho, para um apoio inicial ao projeto no futebol americano, foi feito por Lucyen Christyen, do NFL da Zueira. “Como estudante chato de direito e apaixonado pelo direito constitucional, eu sigo pela linha do Artigo 3 da Constituição Federal, que traça a construção de uma sociedade justa, fraterna e igualitária, promovendo o bem de todos sem preconceitos de raça, gênero, cor, origem o que seja como um dos objetivos fundamentais da república. Sendo assim, aproveitando o espaço que eu tenho, da maior página de NFL e futebol americano do País, fora a oficial da NFL brasil, para promover ações em combate a preconceitos raciais e usei isso para alcançar o Observatório do Racismo e juntar alguns jogadores que eu conheço, jogadores pretos, para formar um grupo que abrace essa causa e constitua uma espécie de Observatório Racial no Futebol Americano”, explicou o paraibano.
Para Caião Lucas Pereira, um dos líderes do movimento, a iniciativa dará corpo para a construção de uma pauta que lutará por representatividade para quem está chegando agora ao esporte, através do combate ao racismo: “A importância do combate ao racismo no FABR nesse momento é mostrar que o esporte transforma a sociedade. O que eu quero dizer com isso. A organização de uma coalizão negra que tem como objetivo dar voz aos que se calam perante as injúrias e ao racismo estrutural e institucional que é enraizado em nosso País. Precisamos de ações que mostrem a realidade do povo preto. Estamos pedindo que sejamos respeitados”, declarou o atual treinador do Black Hawks e ex-jogador da Seleção Brasileira de Futebol Americano, que batizou o coletivo de Coalizão Negra do FABR.
A coalização em ação
Apenas seis dias após a sua primeira reunião virtual, que debateu ações, como a criação do manifesto do movimento e suas possíveis, como apoiar jogadores que possam a vir sofrer atos racistas, a Coalizão Negra do FABR entrou em ação.
Durante a transmissão a final do Campeonato Paranaense de Futebol Americano Virtual, o PopCorn Bowl, um comentário infeliz e de cunho racial foi proferido na sessão de comentários do YouTube. A atitude chamou a atenção dos internautas que se mobilizaram para denunciar o comentário, causando revolta generalizada.
Após a publicação da página NFL da Zueira e centenas de outras ganharem volume, a página do Instagram WarBoys.Hp fez uma publicação de retratação. A página é administrada pelos defensive backs da equipe do Paraná HP e um de seus componentes, Anderson Kvas, foi o autor do comentário: “Nosso atleta está arrependido do comentário infeliz e entendeu toda a revolta em torno da palavra dita. Ontem, logo após o ocorrido Anderson postou eu seu perfil suas sinceras desculpas, entretanto nem todos tiveram acesso, segue nas imagens (clique e confira a postagem de retratação)“.
Menção na grande mídia esportiva
Com menos de 24 horas após o lançamento do manifesto, a Coalizão Negra do FABR já ganhou menção na mídia. Em entrevista ao SporTV, Marcelo Carvalho explicou o trabalho do Observatório contra a Discriminação Racial no Futebol e também citou que o movimento ganhou mais a força dos atletas do futebol americano nacional.
“Estou extremamente feliz com adesão do futebol americano, um esporte que tem uma representação negra importante, seja nos EUA ou no Brasil. São pessoas negras que resolveram quebrar esse silenciamento que foi imposto pela sociedade, pois se negros de destaque falarem de racismo de forma individual, eles estão expostos a perder o espaço conquistado. Os atletas são espelhos para a sociedade e os jovens, quando amanhã sofrerem com o racismo, irão lembrar dos exemplos deste movimento e reagir. Então é importante os atletas usarem a voz que tem para mostrar que não vão mais aceitar calados o racismo, além de provocar a mudança na sociedade por representatividade, inclusão e diversidade”, declarou Carvalho ao Salão Oval.
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